domingo, 17 de fevereiro de 2008

Os morangos caíam tão bem!

Foi anunciado o fim dos D'ZRT e eu devo dizer que estou bastante indignado. Se grupos como este acabam, O Melhor Crítico do Universo fica com menos trabalho.
O que se segue a seguir? Um fim trágico para os Pólo Norte?


Entristecidamente,
O Melhor Crítico do Universo

sábado, 9 de fevereiro de 2008

RAP - Ritmo e Poesia?

Não vos vou falar da história do Rap para já, nem o farei detalhadamente. Vou antes começar por separar as duas componentes do Rap, que são as que dão origem ao próprio nome. Rhythm And Poetry (em português Ritmo e Poesia) simplificados pela sigla R.A.P.

Falando apenas de Rap português, penso que a parte da Poesia ficou perdida algures ainda antes de ter sido feita a primeira música de Rap em Portugal. No Rap, a Poesia é a letra da música.

No dicionário online PRIBERAM, 'poesia' é definida como "s.f., arte de fazer versos; os diferentes géneros da composição poética; conjunto de obras em verso, escritas numa determinada língua ou próprias de uma determinada época, de uma corrente literária, etc. ; fig., inspiração; estado comovido da alma para comunicar entusiasmo lírico ou épico." Penso que a única parte da definição que pode ser aplicada à poesia no Rap português é: "conjunto de obras em verso, escritas numa determinada língua ou próprias de uma determinada época". Para começar, ainda não ouvi uma única música de Rap que não se use dos mesmos modelos de rima emparelhada, com excepção de alguns casos onde são usados outros tipos de rima mais complexos. Seja como for, os versos estão sempre limitados pelo Ritmo a cerca de 16 sílabas métricas, e as estrofes são normalmente múltiplas de 4, novamente devido principalmente às potêncialidades limitadas do Ritmo. Não são exploradas todas as potencialidades da Poesia.
Quanto ao conteúdo, eu acho que conheço o mínimo de poesia para poder rotular a grande maioria dos poemas do Rap de simples descrições em forma de rima. Quando não falam dos bairros, de como são bons, de histórias do jornal O Crime contadas em rima, falam da revolta contra o sistema(?) (como se o sistema não fossem eles próprios), ou revoltas contra a música comercial. O engraçado é que em comparação com a dita música comercial, as diferenças são quase inexistentes.

Compreendo que em termos sociais o Rap desempenhe um papel importante nos bairros sociais, mas a verdade é que
muitos dos que tornam o bairro naquilo que ele é também são os que fazem o Rap e falam mal do sistema ou promovem o seu bairro e o tornam no que ele é. É uma contrariedade em si, já que, segundo consta na História, o Rap foi criado para acabarem as guerras reais nos bairros sociais de Nova Iorque, sublimando as emoções para uma espécie de arte. Deixem de se queixar de tudo e de quantificar o quanto são bons nisto e naquilo e de
justificar que são assim porque vivem no bairro. O bairro é feito de pessoas e as pessoas têm escolha. E já agora vão ler poesia a sério e pensem um bocado mais sobre aquilo que fazem.

Chegámos à parte do Ritmo. O Ritmo é a parte instrumental, digamos assim, do Rap.

Novamente vou falar da grande maioria, e vou dizer que, na era das ferramentas digitais, as potencialidades criativas são ilimitadas (não que já não o fossem antes). Não são precisos instrumentos para tocar, no entanto, o sample (pequeno pedaço de uma música que é cortado e alterado) continua a desempenhar um papel importante na criação de Ritmos. Como na maioria dos casos, o sample vem de uma música com um compasso definido, o compasso não é alterado na nova criação, permanecendo-se sempre dentro dos modelos habituais ternários ou quaternários. Se, em poesia, os versos podem ser maiores ou mais pequenos, porquê que o compasso não pode acabar antes ou depois, consoante o verso, alterando assim toda a estrutura da música e dando novas possibilidades rítmicas? E, se a Poesia não é uma repetição, porquê que o Ritmo o é? É mais uma convenção que, por acaso, se vincou com a música comercial.

O uso do sample torna-se perigoso por descontextualizar músicas que foram feitas com um determinado significado. Ao criar uma nova combinação, partindo só de um excerto, perde-se algo pelo caminho, em vez de se acrescentar algo ao que já lá está. É como ouvir o resumo de um livro, dito por uma pessoa que não o percebeu, e ficar satisfeito. Apesar das potêncialidades do uso do sample, os resultados pecam por ser semelhantes em forma e conteúdo.

Lawrence Lessig diz que uma sociedade, livre para se apropriar do passado de forma a criar novas combinações e, logo, novos significados, é mais rica culturalmente que uma sociedade controlada ou limitada (no caso ele falava dos limites dos direitos de autor). Eu discordo, na medida em que, culturalmente, não se fazem avanços. Artisticamente, os modelos são os mesmos, as bases são as mesmas, não havendo progresso, embora pareca que há. Analisando, verifica-se que não há diferenças em relação ao que foi feito no passado.

Eu compreendo a dificuldade em compreender todos estes conceitos, visto que é preciso ter um background em teoria musical e ter ouvido muita música para perceber as potencialidades que estão na gaveta. Se crescêssemos habituados a ouvir músicas que não têm como base uma repetição rítmica sempre em compassos simples, talvez fôssemos todos pessoas que procuram sempre coisas novas ou inovadoras.

Em relação ao Rap, a última inovação foi a sua criação. Desde então que é tudo igual. E não há a desculpa das condições sociais da maioria de quem faz Rap nem nenhuma outra. Tom Zé, músico brasileiro, disse: "Eu além de ser pobre, brasileiro, 3º mundo, filho da puta, ainda faço música sofisticada!".

O Rap precisa de perceber o que é liberdade musical e poética e mudar.

Mas mudar as bases do Rap seria como o Vaticano dizer que Deus não existe.

Atenciosamente,

O Melhor Crítico do Universo